APRESENTAÇÃO

Bem vindos todos vocês que se interessam pela Educação, seja ela inicial, continuada, presencial ou mediada pelas tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDICs). Este blog tem como objetivo refletir sobre as formas de ensinar e aprender no mundo contemporâneo e o modo pelo qual as TDICs modificam os paradigmas tradicionais de nossa estrutura educacional.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

As histórias que contamos
Cicinato A do Carmo

Histórias e mais histórias! Nossa percepção da realidade é sempre parcial e, nos pedaços dessa parcialidade, criamos sentidos aparentes de começo, meio e fim. Já temos a (in)capacidade humana de apreender a totalidade dos objetos muito bem expressada nos ditos populares, como em Quem conta um conto, aumenta um ponto, ou em A grama do vizinho é sempre mais verde, ou ainda Para quem sabe ler, um pingo é letra. O mesmo acontece na literatura, nas expressões religiosas ou científicas: Tais homens não atribuirão verdade senão às sombras dos objetos fabricados (PLATÃO, A República).

Edvard Munch
Sombras de verdades! Histórias completas de fragmentos de realidade! O quadro O Grito, do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), por exemplo, nos leva a pensar nas histórias que há por trás das cores da tela, da cena sombria que se descortina, dos personagens ao fundo e da figura fantasmagórica que nos olha assustada, aterrorizada, aos gritos (?). Daí, me pergunto: Estaria ela realmente gritando? Para quem? Por quê? De que? De quem? De mim, talvez, que busca criar sentido num recorte de realidade, numa sombra de verdade. Mas, não teríamos aí todos os elementos necessários de uma narrativa: personagens, espaço, tempo e foco?

Sebastian Cosor, formado em arquitetura pela Universidade de Bucareste, Romênia, nos brinda com a sua versão de O Grito no curta The Scream (clique na imagem abaixo para assistir ao vídeo) e, parafraseando a palavra do velho, Sebastian twisted Munch’s words e nos trouxe uma belíssima e aterradora história. E, assim é a capacidade da mente humana: apropriar-se de pedaços de realidade e transformá-los em algo coerente que possamos compreender.

O filme


Em 1944, os psicólogos Fritz Heider e Marianne Simmel publicaram o artigo An Experimental Study of Apparent Behavior, na edição n. 57.2 da American Journey of Psychology. Em seu estudo, Heider-Simmel tratam da percepção interpessoal quando da atribuição de julgamentos sobre os outros. E onde está a relevância de Heider-Simmel para as histórias que contamos? Bem, em pouquíssimas palavras, nas históricas que criamos a partir de fragmentos de realidade. Assista ao vídeo Heider and Simmel (1944) animation, central na metodologia por eles adotada, e responda: Quais sentidos você dá a essa narrativa?



Retornando ao nosso ponto de partida, as histórias que contamos são sombras de verdades. Os julgamentos que fazemos são ordenações de fragmentos de narrativas coerentemente organizadas para que possamos compreender onde estamos no grupo social, seja ele representado pela família, amigos, clubes, sindicatos, organizações religiosas ou étnicas. As histórias que contamos nos fazem humanos – sombras de realidade que experienciamos e compartilhamos ao longo da nossa história.


Referências:
FESTIVAL SCOPE PRO. Sebastian Cosor. Disponível em: <https://pro.festivalscope.com/director/cosor-sebastian>. Acesso em: 30 ago. 2016.
COSOR, Sebastian. The Scream. Disponível em: <https://vimeo.com/33976373>. Acesso em: 30 ago. 2016.
HEIDER AND SIMMEL (1944) ANIMATION. Kenjirou. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VTNmLt7QX8E> . Acesso em: 30 ago. 2016.
THE AMERICAN JOURNEY OF PSYCHOLOGY. An experimental study of apparent behaviour, n. 57, v. 2, abr. 1944. Illinois: University of Illinois Press, 1944. p.243-259.
THE REALLY BIG QUESTION. Heider-Simmel: Is there a story? Disponível em: <http://trbq.org/play/>. Acesso em: 30 ago. 2016.
WIKIPEDIA. Edvard Munch. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Edvard_Munch>. Acesso em: 30 ago. 2016.


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