Considerações de uma educação em trânsito
por Cicinato A Carmo
Algumas
experiências pelas quais passamos não se repetirão jamais com a mesma
intensidade com que as sentimos da primeira vez: o primeiro beijo, a primeira
aula na faculdade, o primeiro carro, a primeira casa. Na verdade, a sabedoria
popular tem razão quando diz que as águas não passam duas vezes no mesmo rio. O
rio já não é mais o mesmo, muda a cada instante. Suas margens são redesenhadas
pelas águas que por ali passam e apresentam novos contornos. As águas, por sua
vez, seguem caminho para outros rios até chegar no oceano. Ora me sinto rio, caminho
sulcado na terra. Ora me sinto água: fluido em busca de zonas mais baixas até
encontrar a imensidão dos mares e ali me misturar a outras águas e me
transformar em mar, em vapor, em água. Assim foi o meu domingo com o grupo Edu on Tour (http://eduontour.weebly.com/):
líquido, intenso e transformador.
Domingo
de festa estranha com gente esquisita. Sim! Gente que dedicou o dia santo para
discutir ações que impactem positivamente a sociedade pelo viéis da educação. E
não eram só brasileiros. Éramos brasileiros, austríacos, suecos, tchecos,
portugueses, alemães, belgas, espanhóis... Éramos muitos. Origens, formação,
classes sociais, culturas nacionais, gêneros e etnias distintas. Éramos um. Um
corpo, muitas funções, um objetivo: lutar para viver com dignidade. Lutar com
espadas, bombas, granadas, rojões? Não! Lutar com a palavra. Indaba! Lutar por
dias melhores, por oportunidades igualitárias, pela dignidade humana, pela
formação global do ser humano. Indaba! Lutar por uma educação goiabeira,
ramificada, frondosa. Ou seria uma educação fogueira? Ágil, dinâmica,
transformadora. Não importa qual seja a metáfora que usemos. Na realidade, o
que importa é a certeza de que o atual quadro social excludente em que vivemos
só poderá ser modificado se, e exclusivamente se, nos lançarmos à ação sistematizada
por uma educação igualitária. Alguns poderão dizer: “Uma andorinha só não faz
verão”, mas afirmo que ela é indicativo de que muitas outras virão para se unir
à ave solitária e formar um bando tão barulhento que não poderá ser ignorado. O
verão está chegando. Quando? Não sei dizer ainda, mas vejo andorinhas aqui e
ali anunciando um tempo que urge. Ouço o seu zinzilular anunciando histórias.
Histórias de cabide, de feridas, de super heróis e de goiabeiras. Histórias de crianças,
homens e mulheres que acreditam na força transformadora da educação. Histórias
contadas em rodas que se desdobram em outras histórias e formam novas rodas ad infinitum.
Indaba!
Palavra de origem africana que significa conselho de pessoas reunidas em torno
de um assunto importante para discussão.
Ou simplesmente em zulu, um assunto para discussão. E que assunto é esse
que trazemos para a nossa roda? Educação. Mas uma educação dialógica, criativa
e empoderadora. E que pessoas são essas na roda da história? Eu, você e todos
aqueles que lutamos por um mundo igualitário. Andorinhas anunciando o verão! Experiências
como a de domingo me fazem perceber mais claramente que ações locais têm o
poder de transformar grandes estruturas quando conectadas em rede. Exemplos há
aos montes na história recente: Maio de 1968, o movimento pelos direitos civis das
mulheres, negros e gays, Primavera Árabe dentre outros. É hora de estabelecer
conexões em larga escala para transformarmos a educação. É hora de ação!
O trabalho Considerações de uma educação em trânsitode Cicinato A do Carmo está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.